Indígenas da Reserva Alto Turiaçu, localizada no interior do Maranhão, estão enfrentando uma grave crise ambiental causada por incêndios que vêm destruindo parte da floresta amazônica. A área atingida pelos incêndios compreende cerca de 530 mil hectares, e os indígenas, que habitam a região, têm lutado para conter as chamas sem o apoio adequado de recursos. A seca prolongada, que já dura três meses, agravou a situação, tornando a vegetação extremamente suscetível ao fogo.
A falta de umidade no solo e nas plantas faz com que qualquer faísca seja capaz de desencadear grandes incêndios, como o que atinge a reserva atualmente. As brigadas locais enfrentam dificuldades para conter os focos, já que a probabilidade de chuva na região é mínima, estimada em apenas 1%. Diante desse cenário, o esforço dos brigadistas indígenas tem se concentrado em impedir que as chamas se espalhem ainda mais, isolando os focos do incêndio.
O cacique Cecin Ka’apor, uma das lideranças indígenas da região, expressou profunda preocupação com a destruição que o incêndio está causando à fauna local. “Tá morrendo jabuti, cutia, preguiça e gente não quer isso”, lamentou o cacique, destacando a perda de animais importantes para o equilíbrio ecológico e a cultura dos povos indígenas que habitam a área.
A Reserva Alto Turiaçu é habitada pelos indígenas das etnias Ka’apor e Awá-Guajá. Os Awá-Guajá, considerados um dos últimos grupos nômades do Brasil, foram contactados pela Funai há apenas cerca de 40 anos, e muitos deles ainda vivem isolados, sem contato com o homem branco ou com outros membros da própria etnia. Para esses grupos, o impacto do fogo é particularmente devastador, já que eles dependem diretamente dos recursos naturais da floresta para sua subsistência.
No combate aos incêndios, os brigadistas indígenas enfrentam a falta de água suficiente para apagar diretamente as chamas. Como alternativa, eles usam ferramentas manuais, como sopradores, abafadores e facões, para abrir aceiros na mata e tentar conter o avanço do fogo. O deslocamento até os focos de incêndio é outro desafio, já que as áreas afetadas são de difícil acesso, sendo necessário utilizar motos para percorrer trilhas estreitas e perigosas.
Somente nos últimos dias, equipes do Corpo de Bombeiros receberam autorização para atuar na área e ajudar os brigadistas indígenas. O reforço inclui o uso de um helicóptero para mapear os focos do incêndio e planejar as intervenções. Até então, o combate às chamas estava sendo feito exclusivamente por 15 brigadistas das etnias Ka’apor, Awá-Guajá, além de um grupo de Guajajara, que se deslocou de outra região, percorrendo quase 200 quilômetros para apoiar as ações.
Com o auxílio do Corpo de Bombeiros, a expectativa é de que a situação possa ser melhor controlada nos próximos dias. No entanto, o cenário permanece desafiador, devido às condições climáticas adversas e à extensão dos danos já causados pelo fogo. A destruição das florestas e da fauna na região agrava ainda mais a vulnerabilidade dos povos indígenas, que dependem diretamente da preservação ambiental para garantir sua sobrevivência.